Opinião

Prêmio Nobel de Economia de 2022

Por João Neutzling Jr.
Auditor estadual, bacharel em Economia, mestre em Educação e professor
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A Real Academia de Ciências da Suécia anunciou dia 10 de outubro o economista norte-americano Benjamin Bernanke, entre outros, como vencedor do Prêmio Nobel de Economia de 2022. Esta premiação é anualmente divulgada desde 1969. Os economistas foram premiados por pesquisas entre atividade bancária e crises financeiras. Benjamim Bernanke é notório por ter sido presidente do Federal Reserve (FED, Banco Central dos Estados Unidos) de 2006 a 2014. A ironia é ganhar um Nobel de Economia justamente o presidente do FED durante a crise mundial de 2008.

A crise de 2008 foi causada pela desregulamentação financeira orientada por uma política neoliberal do tipo "os mercados se autorregulam, não sendo necessária intervenção do Estado". Desde o início dos anos 2000, os bancos americanos, com carteira cheia, começaram a ofertar crédito para mutuários de baixa renda (e alto risco), o chamado "subprime". Como garantia, aceitaram hipotecas de imóveis por um valor muito acima do valor real de mercado. Surgiu uma bolha, criada no mercado imobiliário americano antes de se disseminar por outros mercados e países. Casas e apartamentos com preços em alta serviam de garantia para empréstimos imobiliários que ajudavam a elevar os preços. A espiral culminou em financiamentos de altíssimo risco para clientes sem capacidade de pagamento. Como os bancos estavam aumentando lucros e seus diretores obtendo mais bônus e gratificações pelo volume de negócios, ninguém se preocupou. Nem o FED.

O papel dos bancos é captar recursos dos poupadores e repassa-los aos tomadores de recursos faturando com o spread bancário, diferencial entre os juros da captação e da aplicação. Mas os bancos foram além naquele período. As operações imobiliárias (e lucros) crescentes induziram a emissão de títulos, que por sua vez serviram de base para derivativos, ou seja, contratos em que as partes perdem ou ganham a partir da variação de um ativo financeiro, muito semelhante a uma aposta num cassino.

Quem alertou a todos do cenário de alto risco foi o economista Nouriel Roubini, da Universidade de Yale, que em 2005 avisou: "o preço dos imóveis residenciais surfava uma onda especulativa, que brevemente faria afundar a economia". Seu aviso foi desconsiderado pelo FED, alucinado pelo índice galopante do Dow Jones. Então, um João da Silva qualquer, recém desempregado, não pagou o empréstimo de 500 mil dólares e logo sua casa (dada em hipoteca) foi a leilão e arrematada por 50 mil dólares. Ou seja, os imóveis foram superavaliados e na hora da venda o mercado mostrou a verdade. Logo, ocorreu uma reação em cadeia que afetou bancos, corretoras, empresas de seguros, etc. Isso resultou na falência do Lehman Brothers, fundado em 1847, com dívida de mais 600 bilhões de dólares. Entre outras.

A crise foi demonstrada de forma bem didática no documentário Trabalho interno (Inside Job), de 2010, de Charles Ferguson, premiado com o Oscar de melhor documentário, e também no livro O sequestro da América, de 2012, também de Ferguson.

Bernanke pode estar feliz com o Nobel, mas deve explicações sobre sua gestão na crise de 2008 que afetou o mundo todo.


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